05/05/2013

Ein Landarzt (Um Médico Rural) - Franz Kafka


"Prescrever é fácil, difícil é conseguir a compreensão das pessoas"
Franz Kafka

Exercer a Medicina em áreas afastadas dos grandes centros não é uma tarefa fácil. Além da falta de infraestrutura, de recursos diagnósticos e de possibilidades terapêuticas, o próprio fator humano, representado pela relação do médico com a comunidade, pode ser uma dificuldade. Devido ao grande status social ainda desfrutado pelo médico no interior, expectativas irreais quanto à ação médica podem ser estabelecidas e demandas excessivas podem ser criadas, forçando o profissional a se desdobrar para corresponder à imagem imposta. Algumas vezes, até mesmo consumindo sua vida pessoal neste esforço.

Tão interessante e profundo é este aspecto da realidade médica que as dificuldades de um médico do interior chegaram a ser retratadas em um conto de 1919 do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), intitulado Ein Landarzt, que pode ser traduzido como Médico Rural ou Médico de Aldeia. Considerado um dos maiores escritores de ficção do século XX, Kafka narra neste conto uma série surreal de eventos que envolve um médico de uma aldeia rural.

Pressionado pela necessidade de atender a uma emergência noturna e sem cavalos para o conduzir, o médico acaba pagando um preço maior do que poderia para conseguir visitar seu paciente. Nas palavras do personagem  título, que também é o narrador: "Eu era o único médico e cumpria minha função até o máximo, quase até os limites do possível".

Embora a prosa de Kafka seja caracteristicamente repleta de imagens e passível de múltiplas interpretações, este conto pode ter um significado especial para os herdeiros de Hipócrates. Afinal, quem, em um plantão noturno, já não se identificou com o narrador em: "Mais uma vez, tinha sido chamado sem necessidade, coisa a que já estava habituado, pois todo o distrito me fazia a vida num inferno com chamadas noturnas".

Por outro lado, qual praticante da medicina nunca teve de lidar com as esperanças irrealizáveis dos pacientes, como nosso personagem em: "Esperam sempre impossíveis do médico. Abandonaram as antigas crenças: o padre vai para a casa e livre-se das vestes, uma a uma; o médico, esse, consideram-no onipotente, com sua misericordiosa mão de cirurgião".

Apesar de provavelmente não ter sido seu intento original, Kafka, em seu esforço em perscrutar a alma humana, constrói uma história que pode promover reflexões interessantes sobre a prática médica, mostrando que a boa literatura sempre tem algo a nos dizer se prestarmos suficiente atenção. "Não sou eu, porém, que vou reformar o mundo".


Leia o conto na íntegra em: http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/b43.pdf


Animação de Koji Yamamura sobre o conto (Kafuka: Inasha Ika), em japonês com legendas em inglês: https://www.youtube.com/watch?v=ZDjmW-gIsKs 

2 comentários:

  1. Conto extraordinário.
    Carregado de simbolismo. O que mais me impressiona é como Kafka consegue dizer tanto com tão poucas palavras sobre o raciocínio médico, as emoções do médico, a relação médico-doente e família. Até a própria visão que a generalidade dos médicos têm de que a população que serve é única, sempre muito exigente e pouco grata como nenhuma outra, está bem patente neste conto.
    Como é que alguém, que não sendo médico, consegue representar também esta profissão?

    José Mendes Nunes
    Médico de Familia

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